Em texto publicado na Fundação Perseu Abramo, o deputado Cláudio Puty* critica a oposição por tentar manipular a opinião pública com falsas impressões sobre a inflação:
"Em sua monumental obra, a propaganda política, o escritor francês
Jean-Marie Domenach afirma que a característica da propaganda moderna,
inclusive a política, consiste em impressionar em vez de convencer e em
sugerir algo ao público em vez de informá-lo. É o que acontece com as
recentes declarações de líderes da oposição sobre uma suposta perda de
controle do governo sobre a economia, o que estaria levando o Brasil a
um “apocalipse inflacionário”. Jogam com impressões, não com a
realidade.
Ora, uma análise dos números mostra que as coisas não são bem assim.
Se nós observarmos o tempo de vigência do Sistema de Metas para a
Inflação, veremos que o centro da meta não foi alcançado em 11 dos 14
anos. No governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, a meta era, em
1999, de 8%, caindo em 2000 para 6% e, depois, para 4%. Quando a meta
foi de 8%, a inflação chegou a 8,94%; quando a meta foi de 6%, a
inflação atingiu 5,97%. Em 2001, a meta foi estabelecida em 4% ao ano,
mas a inflação começou a galopar, chegando à taxa de 7,67%. No último
ano do reinado do tucanato, enquanto a meta descia para 3,5% a inflação
batia em 12,53%.
Para combater essa ameaça, o PSDB lançou mão da única arma disponível
– melhor seria dizer, preferível – do receituário monetarista do
Consenso de Washington: a alta da taxa de juros para inibir o consumo.
Assim, para uma inflação de mais de 12%, tivemos uma taxa Selic cavalar,
de 45% ao ano! Quando Fernando Henrique Cardoso entregou a faixa
presidencial a Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2003, a Selic já
tinha baixado, mas ainda estava em espantosos 25% ao ano.
Já nos anos de Lula e Dilma no Palácio do Planalto, os índices
inflacionários foram, em média, bem menores do que tinham sido no último
período do governo FHC, no que se refere ao regime de metas da
inflação. Apesar da torcida contrária da oposição, os governos do PT
conseguiram manter a inflação dentro das bandas de tolerância do Sistema
de Metas, chegando a taxas de 7,60%, 5,69%, 3,14%. Em dois anos do
governo Dilma, mesmo em meio à persistência da crise internacional, a
taxa permaneceu em torno de 6%; no ano passado, ela foi de 5,84%.
O mais significativo é que esses números foram atingidos com a
mudança da política monetária anterior. O PT não fez o combate à
inflação apelando para juros altos, recessão e desemprego, como os
tucanos. Ao contrário: as taxas de juros, que chegaram a níveis
estratosféricos no governo FHC, baixaram pela primeira vez nos últimos
dez anos e hoje se encontram num patamar civilizado – embora ainda alto
–, de 7,25% ao ano. E o desemprego, esse flagelo social que chegou a
atingir 15% da População Economicamente Ativa (PEA) no final do governo
FHC, hoje está em 6,7%, o menor das últimas décadas, configurando, na
prática, uma situação de pleno emprego – algo que o país não vivia há
muito tempo.
A visão míope do monetarismo neoliberal dos tucanos, portanto, vê no
aumento dos juros a arma mais efetiva contra a inflação – já veremos
por quê. Os governos do PT, ao contrário, procuram múltiplos
instrumentos de combate à ameaça inflacionária: além dos eventuais
ajustes na taxa Selic, passaram a ser adotadas medidas
macroprudenciais, com o controle dos canais de crédito; foram reduzidos
os custos de produção, com a desoneração da folha de pagamento de
diversos setores econômicos; e se aumentou a oferta de produtos
agrícolas, cujos preços incidem fortemente sobre a inflação. Sobre
isso, é bom lembrar que, para este ano, o IBGE está prevendo uma safra
de grãos 13,1% maior do que a safra de 2012.
A grande diferença entre os governos do PT e do PSDB é o hiato que
separa governos de esquerda e de direita: nós vemos o controle da
inflação como um fator importante para a estabilização da economia, mas
não conduzimos a política monetária com um único objetivo, o de
transferir renda para os detentores de títulos públicos e para os
rentistas. Nós, ao contrário, temos compromisso com o país, com a
produção, a defesa da indústria, o aumento da geração de empregos e a
distribuição de renda."
*Cláudio Puty é deputado federal (PT-PA), vice-líder
do governo no Congresso, é economista, com mestrado e doutorado no
Japão e nos Estados Unidos.
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