segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Os interesses nacionais e a crise cambial mundial

A questão cambial mundial, agravada pela decisão dos Estados Unidos de injetar 600 bilhões de dólares no mercado, é um dos principais desafios dos próximos meses. A presente crise é provocada por um intenso processo de disputa no âmbito das economias dos EUA e da China, que têm interesses complementares e ao mesmo tempo conflitantes, com consequências para o conjunto do comércio mundial. O problema pode resvalar nas economias dos países emergentes, daí a necessidade de traçarmos uma estratégia que possa blindar o Brasil contra eventuais consequências desagradáveis.
Precisamos avançar na discussão da nossa política de juros, de reservas cambiais, do carregamento de uma dívida pesada que nos impõe uma despesa no Orçamento federal de cerca de R$ 150 bilhões. Por isso, é oportuna a discussão do tema na comissão geral que será realizada em 1º de dezembro, na Câmara dos Deputados, proposta pela bancada do PT.

Essa é uma questão importantíssima para o desenvolvimento brasileiro. Resultado tanto de uma política interna como de uma situação internacional adversa, que tem levado à valorização de diferentes moedas em relação ao dólar norte-americano, o câmbio tem gerado preocupação em diferentes segmentos da economia brasileira. Nossa indústria e agricultura passam por uma situação bastante difícil. Já estamos enfrentando problemas para exportar.

É necessário que haja um grande incentivo para aumentar nossas exportações. É necessário que tenhamos controle orçamentário sobre a dívida externa e, principalmente, a interna, para que o Brasil não cesse o desenvolvimento que vem tendo e não perca a possibilidade de dar um grande salto à frente.

Esse é um dos desafios que teremos de enfrentar em 2011, no primeiro ano do mandato da presidente Dilma Rousseff, cuja equipe econômica já anunciada detém todos os conhecimentos para realizarmos essa dura travessia.

O cenário externo é nebuloso. Vamos enfrentar uma situação internacional muito mais difícil e complicada com a política norte-americana de injetar dólares, cada vez mais, para tentar recuperar seus mercados. Trata-se de uma medida egoísta, de um país que não se preocupa com a comunidade internacional. Os EUA querem resolver o sua crise interna - provocada pela inépcia de seus dirigentes, que não perceberam a farsa alimentada pelos sistema financeiro e que gerou a crise mundial de 2008 - às custas dos países emergentes. Os EUA vêm fazendo uma ofensiva protecionista, por meio da derrama de dólares no mercado mundial.

Nós, no Brasil, também não podemos perder nossos mercados e saberemos reagir à altura. Por isso, todo o nosso apoio às posições expressadas tanto pelo presidente Lula como pela presidente eleita, Dilma Rousseff, durante a reunião do G-20 - o grupo das vinte maiores economias mundiais - em Seul, Coreia. A conduta dos EUA deve ser repelida, em todos os foros internacionais. Não é possível que a maior economia do mundo, com o poder que tem e com a posse da moeda de conversão internacional, continue agindo dessa maneira.

Devemos adotar medidas que nos protejam deste embate cambial que coloca a China também no cenário. É necessária a aplicação de medidas internas de defesa não só da nossa indústria como da nossa agricultura, medidas que garantam o emprego, a produção e as condições para que o País continue se desenvolvendo.

A comissão geral do dia 1º de dezembro reforça o papel do Congresso, a quem cabe, pela Constituição, discutir e definir a política monetária e cambial. Mas nós, efetivamente, até agora não assumimos esse papel. O Congresso Nacional é instrumento essencial para que o País possa encontrar uma saída para enfrentar essa ofensiva dos EUA, que, em vez de incentivar o desenvolvimento e a produção, faz uma grande derrama de dólares, o que prejudicará os países em desenvolvimento.
(Artigo do deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP)- publicado originalmente no Jornal da Câmara)

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