sábado, 15 de junho de 2013

POR QUE O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA DESPERTA TANTO ÓDIO DE CLASSE?


Fátima Oliveira

Eu não tinha a dimensão do ódio de classe contra o Bolsa Família. Supunha que era apenas uma birra de conservadores contra o PT e quem criticava o Bolsa Família o fazia por rancor de classe a Lula, ou algo do gênero, jamais por ser contra pobre matar a sua fome com dinheiro público.

Idiota ingenuidade a minha! A questão não é de autoria, mas de destinatário! Os críticos esquecem que a fome não é um problema pessoal de quem passa fome, mas um problema político. E Lula assumiu que o Brasil tem o dever de cuidar de sua gente quando ela não dá conta e enquanto não dá conta por si mesma. E Dilma honra o compromisso.

Estou exausta de tanto ouvir que não há mais empregada doméstica, babá, “meninas pra criar”, braços para a lavoura e as lidas das fazendas que não são agronegócios... E que a culpa é do Bolsa Família! Conheço muita gente que está vendendo casas de campo, médias e pequenas propriedades rurais porque simplesmente não encontra “trabalhadores braçais” nem para capinar um pátio, quanto mais para manter a postos “um moleque de mandados”, como era o costume até há pouco tempo! E o fenômeno é creditado exclusivamente ao Bolsa Família.

Esquecem a penetração massiva do capitalismo no campo que emprega, ainda que pagando uma “merreca”, com garantias trabalhistas, em serviços menos duros do que ficar 24 horas por dia à disposição dos “mandados” da casa-grande, que raramente “assina carteira”. Eis a verdade!

Esquecem que a população rural no Brasil hoje é escassa. Dados do IBGE de setembro de 2012: a população residente rural é 15% da população total do país: 195,24 milhões. Não há muitos braços disponíveis no campo, muito menos sobrando e clamando por um prato de comida, gente disposta a alugar sua força de trabalho por qualquer tostão, num regime de quase escravidão, além do que há outras ocupações com salários e condições trabalhistas mais atraentes do que capinar, “trabalhar de aluguel”, que em geral nem dá para comprar o “dicumê”. Dados de 2009 já informavam que 44,7% dos moradores na zona rural auferiam renda de atividades não agrícolas!

Basta juntar três pessoas de classe média que as críticas negativas ao Bolsa Família brotam como cogumelos. Após a boataria de 18 de maio, que o Bolsa Família seria extinto, esse assunto se tornou obrigatório. Fazem questão de ignorar que ele é o maior e mais importante programa antipobreza do mundo e foi copiado por 40 países – é uma “transferência condicional de renda” que objetiva combater a pobreza existente e quebrar o seu ciclo. Atualmente, ajuda 50 milhões de brasileiros: mais de 1/4 do povo! E investe apenas 0,8% do PIB! Sem tal dinheiro, mais de 1/4 da população brasileira ainda estaria passando fome!

Mas há gente sem repertório humanitário, como as que escreveram dois tuítes que recebi: “Nunca vi tanta gente nutrida nas filas dos Caixas eletrônicos para receber o Bolsa Família, até parecia fila para fazer cirurgia bariátrica”; e “Eu também nunca havia visto tanta gente rechonchuda reunida para sugar a bolsa-voto!”.

Como disse a minha personagem dona Lô: “Coisa de gente má que nunca soube o que é comer pastel de imaginação; quem pensa assim integra as hostes da campanha Cansei de Sustentar Vagabundo, que circulou nas eleições presidenciais de 2010”. São evidências de que há gente que não se importa e até gosta de viver num mundo em que, como escreveu Josué de Castro, em “Geografia da Fome” (1984): “Metade da humanidade não come e a outra não dorme com medo da que não come...”.

http://leiturasmarona.blogspot.com.br/2013/06/por-que-o-programa-bolsa-familia.html

terça-feira, 11 de junho de 2013

Lula, o reconhecimento internacional e as elites brasileiras

No texto abaixo, o deputado Newton Lima (PT-SP), discorre sobre o reconhecimento internacional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já recebeu 55 honrarias desde que deixou o cargo, entre elas 24 títulos de doutor honoris causa. Ele cutuca a oposição brasileira por seus insistentes ataques a Lula,  que liderou um governo que em oito anos inverteu as prioridades nacionais e tirou 28 milhões de pessoas da miséria, possibilitou o ingresso de outros 39 milhões na classe média e criou 16 milhões de empregos formais. "Não por acaso, o historiador britânico Eric Hobsbawm, morto ano passado, disse que Lula é o mais importante político da atualidade", sublinha Neton Lima.  


"Conhecemos a saga de grandes estadistas, como Mikhail Gorbatchóv, aclamados no mundo inteiro por feitos de alcance universal, mas que acabaram rejeitados por seus próprios conterrâneos, incapazes de captar a dimensão histórica das mudanças empreendidas. Já o Brasil teve líderes políticos queridos pelo povo e vilipendiados pelas elites, como Getúlio Vargas e João Goulart, e que por isso tiveram seus governos interrompidos. Mas nunca ninguém como o ex-presidente Lula conseguiu, em seus mandatos e depois deles, ter tanto apoio e reconhecimento internacional e, ao mesmo tempo, ser objeto de tanto ódio e preconceito por parte de alguns setores da oposição.

Há dois dias o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma matéria revelando que, com os 11 últimos títulos de Doctor Honoris Causa recebidos em menos de um mês, Lula passou a liderar a lista de homenagens a ex-presidentes, com 55 honrarias: 24 títulos de Doctor Honoris Causa (11 brasileiros); 28 prêmios e cinco títulos de cidadania. A título de comparação, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acumulou 22 honrarias: nove títulos de Doctor Honoris Causa; 11 prêmios e dois títulos de cidadania.

Na semana passada, Lula recebeu o título de Doctor Honoris Causa da Universidad Mayor de San Marcos, em Lima (Peru), fundada em 1551 e a mais antiga das Américas. O ex-presidente se emocionou por ter recebido a honraria da mesma universidade que, no passado, homenageou os libertadores Simón Bolívar e San Martí. E, no mês passado, Lula esteve na Argentina para receber o mesmo título de nada menos que oito universidades daquele país, entre elas a Universidad Nacional de San Martín e a Flacso (Facultad Latino-americana de Ciencias Sociales).

Entre os tantos títulos internacionais já recebidos por Lula cabe aqui destacar o que foi entregue em Nova York em abril pelo International Crisis Group, um think tank americano que concedeu ao ex-presidente o prêmio Em Busca da Paz; e o que ele recebeu em outubro de 2011, o World Food Prize, criado pelo Nobel da Paz de 1970 Norman E. Bourlaug para homenagear chefes de Estado que combateram a fome. No mesmo ano, ele também recebeu o Prêmio Lech Walesa em Gdansk (Polônia), que presta homenagens a personalidades que se destacam pelo respaldo à liberdade, à democracia e à cooperação internacional.

Mas talvez a honraria mais célebre e a que causou maior polêmica tenha sido o Doctor Honoris Causaconcedido ao ex-metalúrgico pelo prestigioso Instituto de Estudos Políticos de Paris, mais conhecido como Sciences Po, também em 2011. Lula foi apenas o 16º Doctor Honoris Causa dessa universidade em 140 anos de existência. Pelos bancos da Sciences Po se formaram o escritor Marcel Proust, o ex-presidente Jacques Chirac; o ex-premiê Lionel Jospin e Pascal Lamy, ex-diretor da OMC, entre outros.
À pergunta impertinente de alguns jornalistas brasileiros sobre o porquê de Lula – e não Fernando Henrique Cardoso – ter recebido semelhante distinção, o diretor do Instituto de Estudos Políticos Richard Descoings, respondeu que o ex-presidente “mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo”. Nas palavras do diretor, “o Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. O presidente Lula mostrou que é possível ser um bom presidente sem ter que passar pela universidade”.

Na oportunidade, o grande jornalista argentino Martín Granovsky lavou a alma de Lula e do povo brasileiro ao escrever ironicamente que no Brasil“um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se, por alguma casualidade, chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. Assim, Lula, silêncio, por favor. Os da Casa Grande estão irritados”.

Além do apoio da maioria da população, esse amplo reconhecimento internacional de Lula, feita por entidades tão díspares, deveria levar a oposição mais intransigente à reflexão. Afinal, Lula liderou um governo que em oito anos inverteu as prioridades nacionais e tirou 28 milhões de pessoas da miséria, possibilitou o ingresso de outros 39 milhões na classe média e criou 16 milhões de empregos formais. Não por acaso, o historiador britânico Eric Hobsbawm, morto ano passado, disse que Lula é o mais importante político da atualidade. "